Academia de Vilões: Uma produção conceitual, de grande inovação, se você conseguir chegar até o final.
Academia de Vilões: Uma produção conceitual, de grande inovação, se você
conseguir chegar até o final.
Com um elenco pouco conhecido no Ocidente, Academia de Vilões é mais um daqueles
filmes de países pequenos, e pouco conhecidos na sétima arte, que nos faz
questionar como chegou aos grandes serviços de streaming. O longa filipino
mistura comédia e drama com uma potente crítica social e elementos fantásticos,
com uma premissa anos-luz à frente do que estamos acostumados a assistir, embora
chegar ao final seja um grande desafio para o público da Netflix.
Resumo:
Gigi(Barbie Forteza) é uma funcionária de um restaurante de churrasco coreano que
precisa aguentar um chefe extremamente abusivo. Em meio a muitos desvios de
função e cobranças constantes, e com sua vida amorosa estagnada em um
relacionamento que não avança, ela segue lutando ao máximo para conseguir tirar
a família de um enorme buraco financeiro. Sua vida muda drasticamente quando, ao
assistir a uma curiosa novela — que ela acreditava ser independente em uma
misteriosa televisão —, recebe a chance de entrar no mundo das telenovelas e
estudar na excêntrica Academia de Vilões. Este lugar promete transformá-la na
maior das megeras que a televisão já viu e devolver o controle da sua vida no
mundo real para as suas mãos.
Análise e Opinião
A produção filipina se inspirou
nas suas novelas nacionais, as quais lembram muito as populares novelas
mexicanas, velhas conhecidas do público brasileiro, e nas famosas histórias de
troca de mundos orientais, os chamados isekai, muito populares no universo dos
animes e mangás. O filme usa essas referências para tecer uma crítica à
indústria da mídia e a como suas produções moldam padrões de relacionamento no
mundo real, discutindo as idealizações da vida moderna e as frustrações
cotidianas ao longo do caminho. Barbie Forteza entrega um ótimo trabalho tanto
nas cenas do mundo real quanto no mundo fantástico das telenovelas. É nítido ver
a evolução de sua personagem e o peso das muitas transformações sofridas ao
longo da trama, de modo que a compreendemos e a apoiamos, mesmo quando é
manipulada pela caricata vilã Maurícia, vivida por Eugene Domingo. A atuação de
Domingo captura nossa atenção, mesmo nos momentos de maior constrangimento,
aqueles que nos dariam vontade de avançar algumas cenas ou até mesmo parar de
ver o filme, para os que possuem um maior grau de vergonha alheia. Com uma clara
referência ao filme da Barbie, o mundo das novelas é extremamente caricato e
colorido, talvez o ápice das paródias. Tudo é muito exagerado e confuso, como as
novelas mexicanas, mas desta vez no mau sentido. Essa parte é responsável pelo
lado cômico do longa e por apresentar parte das críticas às mídias sociais. Aqui
ocorre uma quebra de ritmo brusca e uma total mudança de panorama, causadas por
uma forçosa, mas proposital, comédia nonsense e pastelão que afugenta boa parte
do público. É difícil resistir ao constrangimento e à vergonha alheia, como eu
disse antes; é um verdadeiro desafio chegar ao final sem pular algumas cenas do
mundo das novelas. Por outro lado, é no mesmo mundo das novelas que o filme se
redime e recompensa os fortes, ao desenvolver o conceito principal da produção
filipina. Trabalhando melhor os personagens desse mundo paralelo, mostrando-nos
o lado dos mocinhos e conferindo uma identidade própria aos personagens até
então esquecidos, o filme faz tudo valer a pena. Os diálogos aqui são leves,
intensos e provocativos, e as cenas são significativas e fantásticas. É também
neste ponto que Gigi se recupera, superando seu passado e recobrando sua
autonomia. Novamente em posse de sua liberdade de consciência e senso crítico,
ela escapa das manipulações e se reconcilia consigo mesma, promovendo uma
verdadeira mudança social em ambos os mundos e revelando o ouro que estava
escondido por todo esse tempo, arrematando as críticas propostas pelo filme. Se
você espera algo inovador e revolucionário, com certeza irá encontrar, porém não
do jeito que espera. Com uma premissa curiosa, à qual você deve se apegar até o
final do filme para poder enfrentar as barreiras mencionadas acima, e um
desfecho que faz tudo valer a pena e que conserta com esmero algumas "falhas" de
roteiro e inconsistências, este longa filipino é uma experiência singular.
Assista e confronte, pouco a pouco, suas próprias perspectivas, mudando também
seu ponto de vista ao longo do filme. Talvez não seja um filme que você irá
assistir muitas e muitas vezes, mas uma única assistida é capaz de lhe fornecer
uma experiência única, que dificilmente você poderia ter concebido em sua
própria cabeça. Por todo o seu esforço em um ambicioso e contínuo exercício de
coragem para produzir uma experiência singular e disruptiva, com a chocante
premissa de um absurdo crível e quase utópico, que produz méritos únicos, sua
nota final é: 4.2 Estrelas
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